Na hora de comparar informações, normalmente, o aspecto relativo predomina sobre o aspecto absoluto na análise de dados. Dados como os de crescimento econômico, de potencial causador de doenças por certos agentes, entre outros, são mostrados em termos percentuais.
Richard Thaler – ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2017, por pesquisas sobre Economia Comportamental – percebeu que as pessoas são mais motivadas a agir baseadas em valores percentuais do que em absolutos. Como exemplo, estaríamos dispostos a dirigir até outro ponto da cidade para economizar R$ 100,00 na compra de uma roupa que custa R$ 300,00; mas não estaríamos dispostos a isso para economizar os mesmos R$ 100,00 na compra de um carro que custa R$ 100.000,00. A economia é a mesma, no entanto, em comparação com o valor do carro, parece ser insignificante.
É comum vermos estudos dos mais diversos sendo mostrados em meios de comunicação por seus aumentos percentuais de chance ou de risco relativo, como na matéria Carne vermelha está ligada a maior risco de morte por várias causas, diz estudo ou Estudos mostram relação entre carne vermelha e câncer. As matérias indicam que a carne vermelha está associada a um risco 26% maior de morte por diversas formas não naturais. Em matérias como essas, dificilmente vemos a informação de quanto esse risco é de fato.
Para exemplificar a importância de observar os valores absolutos, digamos hipoteticamente que o consumo de álcool aumente em 50% o risco de ter cirrose hepática. Se a probabilidade de adquirir a doença aumentasse de 10% para 15% com o consumo de álcool, você provavelmente não colocaria um pingo de álcool na boca; se aumentasse de 1% para 1,5%, você pensaria duas vezes antes de beber; mas se aumentasse de 0,001% para 0,0015%, você daria de ombros. Os valores absolutos raramente são citados, talvez porque acenar com um aumento de 50% sobre um risco chame bem mais atenção que informar probabilidades “microscópicas”.
O PIB americano é calculado em cerca de US$ 20 trilhões, enquanto o brasileiro é cerca em de US$ 2 trilhões. Se a economia americana crescer 1%, serão US$ 200 bilhões em valor adicionado; enquanto, na economia brasileira, serão US$ 20 bilhões a mais para o mesmo crescimento percentual. Uma diferença que precisa ser levada consideração. Inclusive, economias grandes tendem a crescer menos percentualmente que economias pequenas. Pelo mesmo motivo que, em uma bolsa de valores, empresas grandes tendem a crescer menos do que empresas pequenas. Há um limite natural ao crescimento devido ao próprio tamanho.
Fica a dica, da próxima vez que se deparar com “estudos mostram um aumento de”, tente verificar também os valores absolutos para entender o verdadeiro impacto que o resultado da pesquisa tem na realidade.
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Estatístico e cientista de dados. Apaixonado por aprender e compartilhar conhecimento nas áreas de estatística, economia, finanças e investimentos. Experiência com modelagem estatística e econométrica para a previsão de demanda no transporte rodoviário de passageiros e ferroviário de cargas; análise econômico-financeira de seguros ferroviários; planejamento amostral para pesquisas de campo e construção de modelos de Machine Learning para a análise de propensão de compra, risco de crédito e detecção de fraude.